quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

PRIMEIRO MOMENTO FILOSÓFICO

“Com uma semana de internação, naturalmente estabelece-se uma rotina, uma ordem que me dá a falsa ideia de estar no comando das coisas, como se “eu” tivesse organizando o meu dia.  Ah! Doce ilusão! Se eu já não havia entendido, há um ano eu entendi, na marra, que eu não tenho o controle sobre a minha vida. Eu posso fazer escolhas, eu posso querer viver conforme as minhas escolhas,  mas nem sempre a vida obedece aos meus comandos. E o que me resta? Fé no futuro. A certeza de que há um propósito em todas as coisas. É claro que situações como essa, somadas  ao  tempo ocioso, nos fazem pensar na vida. Filosofar mesmo. ‘De onde eu vim? Para onde vou? Deus existe?’ Estas questões filosóficas essenciais eu já me fiz na última época em que me lembro de ter tido tempo livre, há 10 anos, quando vivi no Canadá, em Vancouver, por 7 meses. Mas essa é outra história...
                Hoje, já tendo encontrado  respostas que, por enquanto, me satisfazem, não me pergunto mais de onde vim e para onde vou. E é claro que Deus existe! Também não me pergunto ‘Por que comigo?’. As questões atuais são: por que isso está acontecendo? Por que tenho que experimentar isso? Que lições tirar? Como agir? Ainda não consigo respondê-las, mas procuro ter paciência e fé.”
Nota atual (não consta no diário):  Chorei muito nos primeiros  dias de internação, e após  uma ultrassonografia  (2 dias após a internação), depois de ver que o colo uterino estava quase aberto (como o de uma mulher quase em trabalho de parto), tive a certeza de que não daria certo. Pensei mesmo que eu fosse perder mais um bebê. E chorei muito. Nessas horas, ser médica me faz ter uma visão muito realista (científica talvez) da situação. E por mais que eu quisesse acreditar, aquele “colinho” de útero que media menos de 1 cm não agüentaria até a maturidade do feto se completar. Eu estava com apenas 22 semanas de gestação.  Era uma tristeza sem fim! Desolação total! Falei com minha irmã por telefone (ela mora em Brasilia) e chorei mais, dizendo que não daria certo... Ela foi muito forte e incisiva: ‘tenha fé! Vai dar tudo certo! Tenha fé!’  Aquilo foi como um bote para  o náufrago, palavras nas quais me agarrei (eu precisava daquilo, como eu precisava!) e comecei a rezar todos os dias, várias vezes ao dia, com toda a força da minha alma, com toda a minha verdade e o meu amor pela vida, pelo bebê que estava comigo e pela vontade de tê-lo nos braços. Eu sempre acreditei em Deus, em  uma força maior no Universo, e sempre rezei (não foi só desespero  de recurso final), mas em geral eu só agradecia, não fazia pedidos...  acho que nunca tinha feito barganhas ou tentado negociar com Ele...rsrs. Essa foi a primeira de muitas vezes.

Bom finzinho de ano e até o próximo!
Renata

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

É NATAL!

Passei por aqui hoje somente para desejar a todos um Feliz Natal!!!
Que o Natal de vocês seja o que ele é: a comemoração do nascimento do Cristo, um homem que, apesar de nunca ter sido unanimidade, incontestavelmente foi exemplo de amor, caridade, perdão e humildade. Que nesse aniversário todos nós busquemos aprender um pouquinho com seus ensinamentos.
Até a próxima semana!
Renata

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ROTINA DO HOSPITAL II - o banho


“A cada dia, é uma enfermeira diferente que me dá o banho. É sempre um momento alegre do meu dia, já que leva um tempinho, me refresca, me sinto renovada. A técnica é sensacional:  touca no cabelo (até hoje, só lavei uma vez, pois dá muito trabalho lavar na cama), lavo meu rosto e pescoço, enxáguo com copinhos d’água morninha, lavo braços, axilas, tronco, abdome, virilha, genitais. Então, a enfermeira lava minhas pernas e pés. Enxaguamos tudo e a cama vai ficando uma sopa, mas é claro que o colchão é coberto e impermeável. Viro de lado, para que lavem minhas costas. Aí vem a hora legal: o lençol sujo e molhado é enrolado até que fique em baixo de mim. A enfermeira seca e limpa a metade do colchão e já forra com um lençol limpinho; eu me viro para o outro lado, sobre o lençol recém-trocado, secam minhas costas, retiram o lençol molhado, limpam e secam a outra metade do colchão e puxam o lençol novo, esticando-o totalmente. Ufa! Agora já posso me deitar, terminar de me secar e vestir uma blusinha limpa (é minha única peça de roupa nos últimos dias, já que colocar e tirar a calcinha pra usar a comadre é trabalhoso e não posso fazer esforço), e cobrir  as pernas com um lençol limpo.
                Vem, então, uma sensação boa de limpeza e relaxamento. Então, leio um pouquinho, ou vejo TV, ou tiro um cochilo (só se eu tomar remédio, pois não tenho o hábito de dormir de dia).”
                Por enquanto, é isso!!  Meses depois do ocorrido, lendo isso, percebo que eu agi meio como “Poliana” (alguém se lembra desse livro?), pois até agora, mostrei  só o lado bom das coisas... é claro que vem coisa por aí: mau-humor, ansiedade, medo, revolta, impaciência... afinal, isso é uma novela! Rsrs.
Beijos e até!! Renata

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

ROTINA DO HOSPITAL I - o desjejum

“Hoje é o nono dia de internação e eu e o Airton (meu marido e pai da Isabela e do Kenzo) já estabelecemos uma rotina:
                Acordamos lá pelas 7 horas, ele abre a janela pra entrar a luz do dia, liga a TV no Bom Dia Brasil, dobra as cobertas, levanta a cabeceira da minha cama, traz a comadre pra eu urinar, me entrega escova de cabelos e uma presilha pra eu amarrar os cabelos, enche uma bacia com água morna do chuveiro, para que eu lave o rosto e as mãos, me entrega escova de dentes  e um copo para que eu escove os dentes... Ufa! Retira a comadre, ajuda com o papel higiênico, retira a bacia, pega a escova e o copo e, vamos lá, o dia está só começando!
                A essa altura, a moça da copa já trouxe a bandeja com o café da manhã. E lá vai o Airton: coloca leite quente com café na mamadeira  (é um pequeno squeeze, mas eu chamo de mamadeira), passa margarina em meio pão francês (é o que o hospital oferece) e geléia na outra metade (do jeito que eu gosto).
                Só um parêntese para umas considerações: 1- minha cunhada e meu irmão me trouxeram squeezes (um grande e um pequeno) no último fim de semana, quando vieram de Ribeirão Preto me visitar. Foi uma ideia ótima, já que só fico deitada e tomar leite e água na xícara torna-se uma tarefa complicada;  2- eu adoro tomar leite quente na “mamadeira”. É bem mais gostoso que na xícara!
                Voltando à rotina: além do leite e do pão, Airton deixa frutas ou salada de frutas ao meu lado, que eu como logo depois. Enquanto eu como, ele toma um cafezinho. Antes de sair (ele tem que trabalhar!), Airton organiza a mesinha ao lado da cama: deixa garrafas cheias d’água à mão, bem como os controles da Tv e do Cabo (ele até instalou aqui no quarto do hospital um aparelho “clandestino” pra pegar todos os canais, porque não pegava GNT e eu adoro GNT!).
                Quando ele sai, é hora do meu banho no leito.”

                Assunto para o próximo post.  Até breve! Renata

sábado, 18 de dezembro de 2010

por que KENZO

Estou adorando esse blog! Já recebi comentarios e emails carinhosos de apoio. Obrigada a todos!
Hoje passei aqui para explicar o por que da escolha do nome Kenzo, já que muitos me perguntam isso.
KENZO é um nome de origem japonesa, que pode ter vários significados, dependendo do ideograma usado para escrevê-lo. Pode significar sábio, inteligente, saudável, iluminado... mas a escolha não foi bem pelo significado...
Meu marido é descendente de japoneses e estávamos namorando havia poucos meses quando foi publicada essa Veja, em Dezembro de 2007:
Começo de namoro, eu apaixonadíssima pelo japonês... fiquei louca com o japinha da capa, que se chamava Kenzo. E pensei: 'se um da eu tiver um filho homem, vai ser Kenzo'. E foi assim...
Beijos e até breve!
Re

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O CADERNO

Comecei a escrever o diário no sexto dia de internação, quando ganhei este caderno:
Vou reproduzir os textos a partir dele. (Meu marido disse que esse blog vai ter um fim breve, já que a história termina quando a gestação tem fim.  Pode ser.  Mas, escrever me dá prazer e sei que vou encontrar caminhos e temas para manter meu blog vivo! Hehe ).
Então, vamos lá:
“Uberlândia, 30 de março de 2010.
Hospital  Santa Clara, quarto 31
                Eram 14 horas quando liguei para Ana Flávia (minha secretária) e pedi que ela trouxesse minha agenda, pois me deu vontade de escrever. Pensei: - ‘Ah! Se eu tivesse um caderno aqui, começaria a fazer um diário’. Pois então, menos de uma hora após, chega uma encomenda para mim: este belo caderno (olha que capa linda!), lápis, lápis de cor, revistas e um livro de passatempos, enviados por Ethel, Flavinho e Mabê. Vieram embalados em um envelope de chita. Coisa linda! Coisa de Ethel!
                Por que decidi escrever? Há 5 dias (quase 6, na verdade), estou internada e em repouso absoluto.
                É a minha segunda gravidez. Fui internada no dia 25 de março de 2010. Por uma coincidência no mínimo sem graça, em 25 de março de 2009 fui internada com 18 semanas de gestação (de uma menina, a Isabela), com dilatação do colo uterino e suspeita de uma condição rara, chamada incompetência istmo-cervical. Nessa doença, o colo do útero não suporta o peso do bebê, quando ele começa a crescer, e abre-se, ou seja, o útero não segura o bebê e o deixa “escapar”cedo demais, antes que ele tenha maturidade para sobreviver extra-útero, geralmente no segundo trimestre da gestação. Então, após um dia internada, houve rotura espontânea da bolsa. E, 24 horas após, tive que induzir um parto normal, para encerrar a gestação, já que a Isabela não teria mais chances.
                Um ano depois (exatamente uma ano depois! Que estranho!), fui fazer uma ultrassonografia obstétrica, com 22 semanas de gestação, e o exame mostrou um bebê com tamanho e peso adequados para  a idade gestacional, sem mal-formações, do sexo masculino (é o Kenzo!). Que ótimo! Mas, mostrou também um colo de útero apresentando dilatação do orifício interno (que susto!).
É assim:
Após o exame, fui internada imediatamente e,  desde então,  estou restrita ao leito.”
                “Decidi começar o diário no dia 30, dia em que ganhei o caderno. Mas, engasguei na primeira página e não consegui contar a história da Isabela. Só hoje, 02 de abril (03 dias após), tive coragem para continuar.”
Continua  no próximo post... beijos a todos! Renata

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

EU TENHO UM BLOG!

Hoje é um dia especial! Eu finalmente criei um blog! Morro inveja dos blogueiros que conheço por aí (on line e off line!).
Sabe, sempre gostei de escrever e até já ganhei concursos de poesia quando era criança...rs. Então, mesmo que eu não seja muito "lida", vai servir como meu diário.
Decidi fazer esse blog há alguns meses. Explico: tive uma gestação de alto risco e precisei ficar de repouso absoluto por quase 100 dias, dos quais 76 em internação hospitalar! Nesse período, fiz um diário contando meus medos, minhas conquistas, minhas dificuldades, superações, enfim... E achei que seria interessante dividir essas experiências com mulheres com problemas semelhantes ou mesmo com amigos e curiosos.
Então fiz isso! A princípio, esse blog será retrospectivo, ou seja, vou reproduzir meu diário da gestação na íntegra (e é claro que farei considerações atualizadas).
Espero que divirtam-se! Eu já estou me divertindo!
Beijos a todos e Viva Kenzo!!!